Limpeza Colónica da Lista Telefónica

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015


Dia 29 de Dezembro
Quatro e meia da manhã.
Tropeço ao ir para a cama cama agarrado ao telemóvel, aborrecido e com frio.
Faltam dois dias.
Dois dias para, nas minhas cuecas azul cliché, regado de espumante barato e confettis - provenientes daquelas pistolinhas pavorosas que alguém sempre tem a brilhante ideia de carregar desde casa para rebentar juntamente com as doze badaladas -  receber o ano novo.

E enquanto a minha parte racional acha toda a tradição imbecil e desnecessária - facilmente substituível por uma boa sessão de filmes e sexo tântrico - estou, como todos os anos, ansioso, à espera do momento em que carrego um botão gigante de Reset, e que todas as incomensuráveis cagadas que fiz este ano se vão, com as sete ondinhas, que nunca pulo, (porque afinal não estamos no brasil e o mar está gelado e não me apetece começar o ano novo com uma pneumonia e roupa salgada).

Desejo todos os anos o mesmo, saúde dinheiro e amor.
Mas como nunca acontece porra nenhuma, começo a suspeitar que há alguma espécie de interferência na linha para a qual se fazem a encomenda dos pedidos de ano novo, isso ou então a telefonista que regista os meus para as entidades superioras está sempre ligeiramente alcoolizada e compreende que a definição de amor se prende a sair com um rapaz que me pedia fisting anal e sadomasoquismo no segundo encontro, em vez de cafuné e croissants na cama.



Em jeito de retrospectiva, abro a lista de contactos e revisito os fracassos amorosos do ano da lista telefónica, uma tradição anual masoquista que não consigo evitar.
Os nomes dissociam-se de caras específicas, todos se transformam num borrão indistinto na minha cabeça passado algum tempo.
Relembro com algum embaraço as situações caricatas, memórias de uma gaysha com mau gosto.
O vesgo que me perseguiu semanas para um encontro que concedi, ganhando em retorno um pneu furado e uma tampa,
O sacana que convidou um amigo meu para um encontro na altura em que estávamos a sair,
O "hétero" que queria "experimentar" na garagem da avó com mulher em casa,
Eclipsam-se um a um com cada "deseja eliminar este contacto?" a piscar no ecrã.

E com um sorriso de satisfação vingada, dou por concluída a limpeza, uma renovação antecipada.
Deito-me e penso "para o ano é que vai ser".
Até ao próximo dia 29 de Dezembro, às quatro e meia da manhã.

Feliz ano novo

Eu...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015


O Funky desafiou, eu aceitei.
Afinal, é sempre giro sabermos um pouco mais uns sobre outros por cá, cá vai;

Sou muito... Crítico, comigo e com toda a gente.
Não suporto... Homens de 30/40 anos que acham que apanharem bebedeiras todas as semanas é um feito digno de admiração.
Eu nunca... saí da Europa
Já me zanguei... Comigo mesmo. Mais vezes do que gostaria de admitir. Não tenho culpa de ser idiota QB.
Quando era criança... Fazia piqueniques à porta de casa sozinho, com dezenas de livros e um rádio com cassetes da Disney.
Morro de medo...de acabar sozinho, e um dia acordar com 60 anos encalhado e ir para os bares fazer a corte aos putos de 18 de cerveja na mão.
Sempre gostei... de romances, seja em filme ou livro. por muito que goze com eles, adoro um bom final feliz, já que não os vejo na vida real.
Se eu pudesse... dava uma vida melhor à minha família
Fico feliz quando... consigo ajudar alguém. Seja através de conselhos ou ajuda prática, estamos cá uns para os outros.
Se pudesse voltar no tempo... Dizia a mim mesmo para não ter medo de ser gay, e deixar de ser imbecil, que não era só uma fase nem fazia mal a ninguém, e para não me meter naquele malfadado curso. Ah, e para não sair com aquele rapaz da padaria, que afinal era casado e não nos diz isso até ser demasiado tarde. e ensinava o meu eu do passado a viajar no tempo, porque me ia dar muito jeito.
Quero viajar para... Tailândia, Londres, Tóquio e Mykonos
Eu preciso... de me sentir amado.
Não gosto de ver... Aqueles casais que acabam as frases todas com "mor" "morzinho" "fofo" ou "baby". Ando sempre com uma navalha no bolso para cortar as linguas de tais exemplares.

Se gostarem destas coisas, desafio vos, Bratz Pedro

Musicalidades

domingo, 27 de dezembro de 2015

No Natal, ganhei uma viola.
Ando com vontade de aprender há algum tempo, veio a calhar.
Surfando a net à procura de tutoriais, todos tocam assim:

enquanto eu sou mais assim:
isto vai ser bonito.

As 4 pessoas que aparecem todos os anos no natal

sábado, 26 de dezembro de 2015

E lá se vai o natal, a fugir atrás dos últimos minutos do dia, levando consigo as enchentes de pessoas nos shoppings - por pouco tempo, porque os saldos estão a espreitar, ansiosamente - , o amigo pai Natal - manhoso, como sempre - as reportagens típicas da época. os Jantares solidários e as mais variadas sugestões para presentes nos programas da manhã e da tarde.
E cá estou eu, a aproveitar o silêncio, assistindo o último episódio de Miss Fisher's Murder Mysteries - que deviam ver porque é simplesmente fabuloso - e a encher o pandulho com chocolates e homenzinhos de gengibre - que, vendo bem, são os únicos homens como nesta época festiva.
Podia desejar-vos um feliz Natal, mas não me pareceu necessário, tenho a certeza que o aproveitaram tão bem quanto possível, na companhia dos que mais gostam, recordaram os que já cá não estão (como eu o fiz), ou talvez até sozinhos.

Pelos intervalos da preguiça vou passeando pela web, e na minha cabeça começa a formar-se uma simpática lista - eu e as listas... - sobre as pessoas que encontramos todos os benditos natais pelos nossos círculos sociais - on ou offline:

A Super entusiasta
OH MEU DEUS, É NATAL! SABIAM QUE É NATAL? EU TENHO UM BARRETE DE PAI NATAL!VOU PÔR O BARRETE DE PAI NATAL NO MEU CÃO!VAMOS FAZER PLAYBACK DO ALL I WANT FOR CHRISTMAS IS YOU DA MARIAH CAREY! BORA!
QUEM QUER TIRAR UMA NATELFIE?

É NATAL SABIAM?
sim, sabemos. acho que toda a gente tem acesso a um calendário, podes parar de publicar selfies com cornos de rena. we get the point.

A Fada do Lar
Aquela que vai postar tudo o que anda a fazer para o natal.
As bolachas a serem amassadas, depois no forno, depois no prato, a mesa a ser posta, a forma como dobrou os guardanapos em forma de floco de neve (o que até hoje me passa um bocado ao lado, porque em mais de metade de Portugal nem neva no natal, por isso não é uma coisa propriamente normal, mas hey.) .
E por meio de técnicas de sugestão psicológica, passam sempre a ideia que é super simples e fácil - quando não é - , sempre com um
Super Fácil! experimentem vocês também :)
ou um
E são estas pequenas coisas que fazem o natal :)
Que querem secretamente dizer
Podes tentar fazer um souflé de natal, mas sabemos os dois que nunca vai ficar tão bem como o meu, porque eu tenho um dom.

A Socialmente Consciente
Enquanto vocês estão em casa a comer bacalhau, há um monte de pobrezinhos a passar fome, espero que tenham isso em consideração enquanto digerirem a comida, e que façam por mudar a situação.
Porque a melhor prenda de natal possível é uma guilt trip.
O que é irónico é que toda essa consciencia social vem direitinha do Ipad, sentados á beira da Lareira a ver o frozen no plasma de casa dos pais e a beber um copinho de porto, nunca de uma sopa dos pobres a fazer voluntariado.


A Revoltada
O NATAL É IDIOTA
ODEIO O NATAL
VOU PARTILHAR MIL MEMES A SER SARCÁSTICO SOBRE O ASSUNTO E A SUGERIR QUE QUEM GOSTA DA ÉPOCA É POUCO INTELIGENTE
PORQUE É QUE TEMOS QUE TER O NATAL, CALEM SE JÁ COM ISSO
UÉ UÉ UÉ
Os que mais existem.
É uma moda ainda mais seguida que a das fotos dos pés na areia da praia.
É cool não gostar do Natal.
Porque é consumista(como se todos os feriados não tivessem o seu quê de capitalismo)
Sabem que mais? Niguém quer saber dos vossos queixumes. Não querem celebrar o natal, óptimo.
Parem de estragar a época a quem gosta, pelo amor de Deus.


E vocês?
Que outro tipo encontram regularmente nas épocas festivas?
Espero sinceramente que tenham passado uns bons dias :3

Natal é tempo de tradição

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

E nada melhor que o costumeiro
"Daqui a bocado vou aí levar-te a prenda de natal a casa, okay?"
Quando não te lembraste de comprar nada para a pessoa em questão.

Viver em casa dos progenitores, tem milhões de prós.
De entre os muitos que há, dou especial destaque a toda a falta de privacidade - afinal, quem precisa de privacidade - que se materializa diversas vezes aos ataques aleatórios de stepford wife arraçado de agente da divisão de controlo de narcóticos da minha mãe, que amavelmente me revista e reograniza todo o interior do quarto sem aviso prévio.

Como tal, toda a tarefa de ter preservativos por casa sem lhe causar uma arritmia cardíaca que despoletará o possível questionário ao nível do FBI - Como só as mães sabem fazer - sobre onde é que eu ando a gastar preservativos de sabor a morango, é bastante mais difícil do que possa parecer.
Como insisto em exercer esporadicamente o meu direito ao orgasmo, tive que me desenrascar.
A ideia que me pareceu mais lógica de há uns anos para cá, foi pegar num dos meus 20 e poucos casacos - não julguem - e nomeá-lo como "o casaco dos preservativos".

E é a esse feliz contemplado que calha o fardo de carregar tudo o que é preservativo que eu tenha à disposição, para uma altura de aperto, porque ninguém perde tempo a revistar casacos só porque sim.
Ora, tudo isto pareceu uma ideia genial e correu às mil maravilhas, até há uns dias atrás.

Resolvi ir comprar o almoço, uma coisinha leve e saudável e tal.
Vesti o meu biker jacket, e aquelas calças que por pacto demoníaco ou tecnologia inovadora deixam que o meu rabo pareça um poster dos boxers da armani, todo trabalhado na sensualidade, num daqueles dias em que acordamos a pensar que o mundo é um buffet, á espera de ser comido.

Comprei umas courgettes, uns pepinos e umas cenouras - por algum motivo a minha lista de compras estava um tanto ao quanto fálica naquele dia - uma embalagem de vaselina e umas bolachas de chocolate, e esbarrei contra o rapazinho mais delicioso de sempre na caixa.

Todo eu sorrisos e piscares de olhos, tiro do cartão para pagar e subitamente uma avalanche de preservativos espalham se pelo chão e pelo tapete da caixa, numa míriade de marcas e variedades, de extra finos a extra lubrificados, em quantidade suficiente para fornecer umas semaninhas o distrito da luz vermelha em Amesterdão.
Juntemos a isto as courgettes cenouras e pepinos e a vaselina - que nem era para mim - , e acho que podemos todos imaginar a minha vergonha, principalmente quando o rapazito se começou a rir da situação enquanto me ajudava a apanhar os ditos bem como os cacos da minha recém estilhaçada dignidade.

Podemos assumir que vou entrar em 2016 solteiro e com muitos preservativos para gastar.
Nada melhor para o espírito natalício colectivo que falar de humilhações pessoais, não é verdade?

Sabes que és gay quando:

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Já recebeste mais fotos de pilas durante a tua vida, do que postais de natal


Transexual de 46 anos vive vida como menina de 6

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015


Depois de lutar com os problemas de descobrir que é trans, esta senhora resolveu viver como uma menina de 6 anos.
Arranjou uma família adoptiva e passa os dias a colorir livros e a brincar com bonecas.
E eu pergunto:
É normal eu sentir que vou ser linchado em praça pública nas internets por achar que falta ali um ou dois parafusos?
 (não pela parte de ser trans pela outra metade da notícia, só para acalmar os mais sensíveis)

5 sinais de que Ele Não está lá muito interessado

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Esta coisa de estar solteiro tem muito que se lhe diga.
Damos por nós ás vezes a investir em bofes que estão tão interessados em nós como no peso cultural do cultivo da mandioca no Uganda rural.

Como bicha apaixonada, fica pior que cega, muitas vezes não reparamos nos sinais até estarmos enrolados em pijamas de lã e mantas, com as luzes apagadas com acessos de autocomiseração a ver pela quinquagésima nona vez o Diário de Bridget Jones e a comer bolachas suficientes para alimentar um pequeno país de terceiro mundo - o que temos que admitir é muito comum. Ou pelo menos é isso que digo a mim mesmo para não me sentir um anormal cada vez que aconteceu.

Com o passar do tempo, reparei que muitas das vezes em que dava errado, haviam sinais, sinais que eu tendia a ignorar, porque "podia ser impressão minha" ou "estou só a ser exagerado".

Quando concluí que não era só impressão, acabei por criar uma pequena lista de perguntas.
Uma guideline, vá.
Se respondo a mais do que uma  - duas se quiser arriscar - destas "sim" sei que não vai dar em nada.

Não tem interesse em partilhar dos teus interesses mas tens que fazer as coisas que ele gosta?

Aquela conversa de que tens que ter os mesmos interesses que as pessoas com que sais, é uma grande treta, mas quando passas horas a ouvi-lo falar sobre as coisas que lhe acontecem, os interesses, ou whatever, mas não te consegue dispensar uns segundos para falares das tuas, é um péssimo sinal.
Não que o bofe tenha que querer saber que compraram papel higiénico em promoção, mas é sempre bom ter algum interesse mútuo... aliás, se querem conquistar o bofe, não lhe falem em papel higiénico, okay?

Demora milénios a responder ás tuas mensagens, mas sempre que saem está com o telefone na mão?
Phoneblocking pode estar na moda, mas que seja um phoneblocking coerente.
Se podemos esperar horas por uma resposta, as outras pessoas também o deviam ter que fazer, logicamente.

Arranja sempre desculpas para não combinar coisas contigo, mas está sempre a sair com os amigos?
Já todos ficámos falidos.
Já todos tivemos problemas com o carro.
Já nos morreu um gato de estimação.
Já todos tivemos compromissos de última hora.
Não é preciso criar uma teoria da conspiração enorme se o bofe ocasionalmente desmarca algo.
MAAAAAAAAAAAAAS Quando começa a ter muitos problemas seguidos, é motivo para desconfiar. Se juntarmos a isso o factor de desmarcar planos convosco para marcar com os amigos, bem... não é preciso fazer muitas contas.

Tens de ser sempre tu a tomar a iniciativa?
Não liga, não interage, não se desloca até ti, e se der ao caso, O bofe vai sair contigo, como se fosse um grande serviço à humanidade, e como se os bofes estivessem em vias de extinção e fosse digno de um altar no armário dos sapatos.  Claro, demonstrar interesse é sempre bom, mas se for de um lado só, vais acabar a fazer de capacho.


Fica chateado quando dizes que não apetece fazer sexo?
Então, têm um encontro. Vêm um filme, comem um hambúrguer no shopping, vão á praia, whatever. Se no final, ele fica sempre aborrecido ou ofendido quando não te apetece liberar a jibóia cega. Como se tivessem assinado um contrato em que tens que ter as pernas sempre abertas, como as portagens da autoestrada. Claro que sexo é óóótimo, mas se só querem sair contigo a contar com isso, diz no mínimo algo sobre as prioridades, digo eu.

[Bónus]Tem uma app de engate sempre ligada?
...E utiliza-a constantemente, mesmo estando contigo?
...Até mesmo quando vão num encontro?
E continuas a sair com ele?
Sério?


Digam-me de vossa justiça:
Acrescentavam mais algum sinal à lista?

Botei a cara no sol


Apeteceu-me mostrar a cara.
Não é uma noticia propriamente interessante, mais um pequeno aviso, Só para não estranharem ver uma cara estranha nos comentários.

Vai Miguel, Vai ter uma vida social.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

E depois adicionaram Queer as folk no netflix.


Cláudio Ramos revela-se Homossexual

sábado, 5 de dezembro de 2015

Em emocionada entrevista para o programa alta definição, Cláudio Ramos declara-se homossexual*.
Outras revelações BOMBÁSTICAS do dia incluem o chocante facto de que o céu é azul, as nuvens brancas, os peixes nadam em água e as vacas leiteiras produzem leite.
*faltou-lhe foi assumir-se um preconceituoso imbecil, mas hey baby steps.

Mood de ultimamente:


Finalmente chegou o dia...

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Em que eu e o meu namorado imaginário podemos acolher na nossa mansão imaginária uma criancinha adoptada imaginária, que vamos mimar com a minha fortuna imaginária.
Oh, happy day

Rendez Vous

sábado, 14 de novembro de 2015



Fez-se silêncio no pequeno varandim, interrompido apenas pela nossa respiração ofegante.
A atmosfera de suor e látex, que se entranhava nas roupas espalhadas pelo chão de azulejo frio, sufocava-me.
Não me sentia bem ali.
Fixei o olhar nas luzes da cidade, parcialmente encobertas pelo nevoeiro, enquanto o abracei de forma instintiva, uma tentativa de obter a proximidade que o sexo não trouxe.
Olhou para mim, soltando-se do abraço desconfortável, com os olhos acesos de vontade, e arranhando-me as costas perguntou:
 "Queres continuar?"
E naquele momento, o acordo silencioso que tínhamos deixou de ser divertido.
O tempo para intimidade passou.
Duvido que alguma vez tenha existido.
Uma ligação que tentei criar, ignorando deliberadamente que nunca esteve lá.
Dei por mim a perguntar-me o que estava a fazer ali, a meio da noite, agarrado a um semi desconhecido com o qual não tenho qualquer tipo de afinidade.
Talvez soubesse a resposta desde que entrei no carro, num parque de estacionamento mal iluminado, umas horas antes, talvez não quisesse saber.
Talvez a fase para rendez vous aleatórios tenha chegado ao fim.

Dia internacional da Preguiça

sábado, 7 de novembro de 2015

Feliz dia do :
"faz-me uma massagem, que eu depois faço-te a ti " (embora ambos saibam que vais adormecer a meio)
Celebrem-no como der menos trabalho -para não fugir ao espírito da coisa.


A culpa é da Globo

sábado, 31 de outubro de 2015



Revisitando o passado, dei de caras com uma das minhas primeiras paixonites platónicas.

Como boa criança portuguesa dos 90's que fui, cresci alimentado a programas generalistas com música pimba - o saudoso (e francamente mau em retrospectiva) big show SIC no topo da lista - e infindáveis novelas da globo.

Entravam por minha casa dentro, todos os serões, e calmamente em família, devorava as histórias, embalado pelo português macio de terras de Vera cruz, onde aparentemente as mulheres eram sempre altas e magras, os homens charmosos e os pequenos almoços dignos de um buffet intercontinental.
Era tudo simples e linear, o rapaz conhecia a rapariga, casavam-se e tinham em filhos o equivalente numérico a uma equipa de futebol, com direito a baladas da Ana Carolina como banda sonora, e a muitas lágrimas pela mistura.

E depois, um dia qualquer, num dos setecentos episódios da novela da altura, o Marcos Palmeira tirou a camisa.
E dentro de mim, qualquer coisinha fez o clique.

Entendamos que por aquela altura tinha praí uns dez anos, sexo era uma palavra, uma noção abstrata que não tinha qualquer desejo de compreender, e ainda estavam relativamente longe os meus anos de  dúvidas sobre o assunto - quando as pequenas paixonites pelos coleguinhas de escola começaram a aumentar de intensidade - , e por arrasto sobre a minha  própria identidade.

Não percebia muito bem na altura qual o apelo de ver um homem suado sem camisa, tendo em conta que sempre achara as mulheres de bikini francamente desinteressantes, e beijos na boca me pareciam a coisa mais nojenta do planeta - oh ingenuidade da juventude - mas nem assim parava de olhar maravilhado para as curvas e contra curvas do senhor na telinha.
O que tornou a minha pequena cabeça numa salada russa de dimensões industriais, afinal, o highlight da minha noite era esperar por aquelas curtas cenas em que ele aparecia em tronco nu - nos anos 90, altura das calças de cintura alta, em que um six pack era apenas uma embalagem de cerveja na américa e a depilação era uma tendência por descobrir- por obra e graça divina, ou do roteirista.


Então, um dia qualquer, começámos a falar de pénis e vaginas na escola, e toda aquela confusão de ereções vasos sanguineos ejaculações e penetrações, que faziam os meninos rir e as meninas corar.
(O timing mais apropriado para um pequeno rebento de bicha pervertida em formação, realmente.)
E, com o meu recém, adquirido conhecimento cientifico, resolvi desenhá-lo, num nu frontal de dimensões realistas, usando como referência a minha memória fotográfica, e o livro de ciências naturais da escolinha - porque sempre fui uma bicha cheia de recursos.

Vendo bem em retrospectiva, não sei muito bem de que sinais precisava ter recebido uns anos mais tarde em plena adolescência para me aperceber que gostava mesmo de rapazes. talvez um sinal de neon a dizer "gay" na testa tivesse ajudado a cortar todo o drama interno pela metade.

Então, qual Gollum, guardei o desenho, debaixo da cama, revisitando-o cheio de orgulho artístico - e suponho que alguns laivos de libido - , até a minha mãe fazer uma limpeza ao quarto e se deparar com uma pintura rupestre - porque sejamos honestos, desenhos de crianças raramente são bons - de um homem nu e cabeludo com uma pila francamente desproporcional.
Claro que na altura nada disto me pareceu estranho ou digno de análise, e inventei uma desculpa esfarrapadíssima sobre como o desenho era para um trabalho da escola - não sei para que disciplina, suponho que para iniciação à bicheza - e fiz com que ele desaparecesse da face da terra - o que é uma pena, porque agora era bem capaz de o partilhar aqui se soubesse o seu paradeiro - , continuando no entanto a apreciar na telinha o Marcos Palmeira sem camisa.

Por isso, quando tiver "a conversa" vou dizer "Eu não era gay, a culpa foi da globo"

E vocês? qual foi a vossa primeira paixonite, televisiva ou derivados, tudo serve, partilhem!

Netflix, netflix

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Se eu tinha alguma esperança de desencalhar com a proximidade das férias invernal, veio o netflix  para reduzir a minha futura vida social/sexual a poeira cósmica.

Sabes que és gay quando:

segunda-feira, 19 de outubro de 2015


Achas um desperdício, homem bonito casado com mulher feia.

Cem mil

domingo, 18 de outubro de 2015

Parece que passei as cem mil visitas no outro dia.
Isto pode nem ser grande coisa, mas pra mim que tenho um blogzito tão modesto e pessoal é.
Por isso, muitos obrigados a vocês todos que cá vêm parar.
São estas coisas que dão vontade a uma pessoa de continuar.

O Casal

domingo, 11 de outubro de 2015

(não resisto a usar este vídeo)

Ainda na minha fase Polyanna, que se esmorece mais a mais com cada experiência falhada, inscrevi-me em mais um aplicativo - Já lhes começo a perder a conta.
Controladas as minhas quase incontroláveis expectativas, já tinha ultrapassado a fase de procurar desencalhar - pelo menos parcialmente - , passando a contentar-me com a eventual queca divertida com algum gajo giro e interessante.
Com o passar dos dias, comecei a acreditar mais na fada dos dentes do que na realização dessas expectativas bastante básicas.

Parece que no Algarve só há casais à procura de rambóia, ou "amizade especial" como tão subtilmente sugeriam nas mensagens que me mandavam uns atrás dos outros.
Juntando à equação as intermináveis exigências dos solteiros de "sigilo" e "discrição" fiquei com a vincada impressão que estava a pedir códigos para o lançamento de mísseis nucleares, cada vez que queria combinar um café ou um cinema com um torso sem cabeça.

Então, um dia qualquer, Senti aquela descarga de adrenalina que a típica dona de casa suburbana sente quando vai ao supermercado e compra as cinquenta sombras de grey juntamente com arroz carolino e uma lata de ervilhas cozidas para o jantar, uma grande puta pioneira na arte dos menage a trois, e resolvi por responder a uma dessas mensagens de um casal das redondezas.
Teclei com muita facilidade, regado de vodka e aborrecimento.
Disse-lhes que nunca tinha feito tal coisa e pareceram-me muito compreensivos e simpáticos, o que vendo em retrospectiva acontece sempre que alguém nos quer saltar para a cueca.
Em aproximadamente cinco minutos evoluímos da conversa cliché de quererem fazer amigos - que devem dizer a todos - para descrições muito...gráficas de fetiches sexuais e coisas que me fariam quando me pusessem a mão -e outras partes do corpo - em cima.

O resto da conversa foi meio que um borrão de elogios e sugestões.
No dia seguinte, a vodka tinha saído toda do sistema, e com ela foi toda a minha coragem líquida.
Subitamente, a puta pionera, virou virgem vergonhosa.
Reparei que afinal não eram assim tão giros.
E que moravam a quase cinquenta quilómetros de mim.
E que queriam que eu fosse ter com eles para um sítio que desconhecia completamente.
E passou-me a vontade completamente, enquanto pensava que nunca mais devia andar com aplicativos de engate, com vodka no sistema.
Afinal eles eram simpáticos, e sabiam que eu nunca tinha feito nada disto, e que era normal que ficasse nervoso e pudesse mudar de ideias, iam compreender.
Então, como uma pessoa racional expliquei-lhes que afinal não queria. Que não estava pronto para me meter numa situação dessas e tinha ponderado e tal.
E lá foi a compreensão com o caralho.
Foi um bocado como se tivesse prometido dar um rim a alguém, e me tivesse levantado da mesa de operações cinco minutos antes da cirurgia.
Passámos da negação à chantagem emocional numa cena digna da novela das oito.
Aparentemente um deles partiu um candeeiro e andava aos berros lá em casa, com a fúria imensa de não poder possuir o meu esbelto corpitxo.

Enquanto isso, o outro me dava uma lição de moral interminável, porque, tinha por escrito por mensagem a minha intenção de me enrolar com eles, e isso é lei.
Quanto mais lhes tentava explicar que afinal não me estava a soar tão bem a ideia de fazer 100 kms para dar uma queca, agora que estava sóbrio e racional, mais me tentavam fazer sentir mal, e reconsiderar.
Prometeram-me um jantar à luz das velas - provavelmente porque já não tinham candeeiro para acender - e uma noite inesquecível - que provavelmente incluiria levar com o outro candeeiro na tromba se corresse mal.

 E quando disse que não, que talvez mais tarde, mas que podíamos continuar a falar, e talvez desenvolver uma amizade - porque afinal, tinham dito de cinquenta maneiras diferentes que procuravam amiguinhos por lá, a eterna aldrabice não é verdade? - disseram-me que iam deixar de me falar, mas que se reconsiderasse lhes podia dizer.

Até hoje nunca mais voltámos a falar, não sei muito bem porquê.


*Eventualmente fiz mesmo sexo a três, mas isso fica para outro dia. 
Ou então não que isto não é o - falecido - blog dos menages.*

Já alguma vez vos aconteceu algo parecido com alguém?
Um engate que não tenha levado bem a tampa?
Vá, comentem-me, à bruta.

O José Rodrigues dos Santos é homofóbico?

sexta-feira, 9 de outubro de 2015


Então uma pessoa liga a internet, e um sururu invade o computador, um burburinho de indignação coletivo de recriminação o José Rodrigues dos Santos.
Aparentemente disse, "o candidato, ou candidata" referindo-se  a um dos recém eleitos deputados por ser o mais velho a ser escolhido para integrar o corpo político.
E qual é o interesse, dizemos nós?

O homem é gay, e aparentemente todos os gays do país levaram isto a peito.
Quando vi a reportagem, em direto - porque vejo o telejornal - , ocorreu-me que estivesse a fazer uma graça, um suspense, uma revelação, porque o telespectador comum podia não saber quem era o eleito com 71 anos, e só o ficaria a saber, depois de ver toda a peça jornalística. 
Mas acho que mais ninguém levou a coisa por este ângulo.


Em vez de andarem a ocupar-se com algo produtivo- tipo sugerir alterações nas leis de adoção ou no protocolo de doação de sangue -, todos os gays do país foram para o facebook do jornalista desancá-lo como podiam.
Agora, o José Rodrigues dos Santos virou homofóbico que faz chacota de deputados gays, aparente e forma tão descerebrada que ficou abestalhado o suficiente para fazer gracinhas em direto para milhares de telespectadores, diga-se de passagem.
Para ajudar à festa, o senhor já veio dizer a publico que estava muito ofendido e pedir a todos os partidos politico para se manifestarem com a situação - ainda nem é deputado oficialmente e já anda a puxar dos poderes políticos.
Bicha a senhora devia ser passiva, só pra ver se aumenta o poder de encaixe.

Depois admirem-se de não serem levados a sério por armarem estas peixeiradas cada vez que sentem o ego - e o pseudo orgulho gay que só aparece nestas ocasiões - arranhado.

"Eu tenho o grindr só para fazer amigos"

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

...E eu vou à Zara para comprar costeletas.

O Primeiro

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Entrei na loja, com pressa, em busca de uma prenda para uma amiga. Uma blusa, um colar, um lenço, qualquer coisa para oferecer num aniversário comprada à última da hora, como manda a norma entre pessoas despassaradas.
Percorri a loja com o olhar rapidamente e vi-o de soslaio.
O primeiro marmelo por quem me apaixonei estava ali, qual aparição do além, oito anos depois com o mesmo corte de cabelo, alto e magro com um relógio preto no pulso e barba cuidadosamente aparada, a trabalhar atrás do balcão da stradivarius.

Não vou negar que durante alguns anos meses sonhei com o momento em que nos encontrássemos na rua ocasionalmente, ele me visse todo elegante e maravilhoso - como sempre obviamente - e percebesse a monumental cagada que fez, me pedisse desculpa de lagriminha no olho, para que eu pudesse dar a estocada final com um redondo "não" esmagador de egos (já agora, na minha fantasia ele era trolha e eu estava com uma camisa de linho branco e umas calças de duzentos euros, porque a minha imaginação é uma novela da globo).
Afinal, foi ele quem me deu a primeira tampa monumental, que me fez ficar uns 9 meses trancado em casa a comer haagen daz e a ouvir Toni Braxton engordando a olhos vistos e adoptando uma postura celibatária que roçou o preocupante para alguém com a libido de um coelho em época reprodutiva.

Na realidade infelizmente não costumo andar com camisas de linho quando vou comprar prendas de aniversário... e quanto às calças de duzentos euros... bem eram umas jeans rotas de 10 euros compradas nos saldos, largas e gastas.

Dei por mim a rever tudo o que se passou, sorrindo nostalgicamente, parcialmente escondido atrás da prateleira dos óculos de sol.
Afinal, na altura era eu um jovem inexperiente e ingénuo, alheio à complexidade de uma relação amorosa e das implicações que ela mesmo depois de um mau término.
Vivia tudo com mais intensidade e não analisava as coisas de cabeça fria.
Agora não, sou uma  pessoa madura e racional, que não se deixa afectar por memórias de um pé na bunda com quase uma década de existência e vive a sua vida de cabeça erguida.
Uma pessoa madura e racional encalhada mal vestida e despenteada.
Então, como pessoa lógica e racional sem rancores nem complexos que sou, larguei a secção dos saldos, tão minha amiga, e peguei na blusa mais cara que a loja tinha, uns brincos e um cinto a condizer, mentalizei-me para fazer a linha rica, empinei o nariz, e dirigi-me à caixa para pagar.

Pus a minha maior cara de snob, e preparei a minha cara de falsa surpresa, olhei-o pela primeira vez desde que entrara na loja diretamente nos olhos e pedi para fazer um embrulho, porque era oferta.
... E fiquei genuinamente surpreso.
... Afinal não era ele.
Sabem aquele momento, em que se começam a rir involuntariamente, depois de fazerem figura de ursos? Foi mais ou menos o que aconteceu, quando aquele rapaz muito bem parecido me perguntou se queria ou não laçarote no embrulho.
Quem ganhou nisto tudo, foi a vaca da minha amiga, só porque me esqueci dos óculos em casa, justamente num dia em que acordei aparentemente nostálgico.

E vocês?
Ainda ficam balançados quando encontram o vosso "primeiro"?